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terça-feira, 10 de dezembro de 2019

A diferença entre assumir a câmera e sua estética como um personagem do filme ...  ou não.

 (Tema quanto a mim um tanto ou quanto ultrapassado)

Existe uma corrente de cineastas que defendem que o publico de um filme deve ser imune á percepção da existência de um meio de captação e que qualquer outra maneira só é distractiva de toda a narrativa,
Já eu, acredito que no cinema o uso de artefactos como posições de câmara, escolha de lentes, iluminação e até como se corta de plano para plano, são ferramentas artificiais usadas para deliberadamente contar a história e criar emoções e que esse trabalho que irá ditar uma estética, (não uma distração) é mais um personagem do filme, que diferente dos outros representantes, existe para embrulhar e dar uma personalidade visual à historia.
A ação de um qualquer filme de ficção, já por si é uma encenação, feita e projectada para a assistência que inevitavelmente passa por uma lente e câmara, em substituição de uma sala de teatro onde existe a relação palco (cena) e espectador (POV).
Quando vemos uma peça de ficção no teatro estamos 100% cientes de que se trata de uma encenação, e não deve ser diferente no cinema. Aliás, a função da encenação é trazer de forma representativa, ideias e emoções para que o espectador se embrulhe na narrativa. 
No cinema tudo isso vem em forma de fotografia
Qualquer espectador que vá ao cinema, sabe que tudo é encenado para ele, sendo a grande diferença, que passou a ser muito fácil levar o espectador para dentro da cena, através de posicionamentos de câmara que ultrapassam a linha do palco, já por si uma adulteração da ideia de uma fronteira espectador/cena.
Não discuto se nos dias que correm haja gente que não saiba que qualquer filme foi feito com uma câmara, acho irrelevante, pois para quem o sabe, no minuto que começa a projeção do mesmo, espera-se que esse tópico fique adormecido no consciente e que a pessoa se embrenhe na narrativa sem ser distraída, mas simplificar a isso, como no pensamento inicial deste ensaio, e delegar à câmara de ser só um instrumento para o observador, me parece muito redutor, pois o papel da câmara na narrativa tem de ser assumido, ou então vamos fazer teatro.
Gosto de tratar a câmara como mais um personagem, o personagem invisível, aquele que tem uma personalidade própria e adequada à historia e que também ele, como os actores em cena, tem a missão de contar uma história e de criar emoções 


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