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terça-feira, 22 de junho de 2021

 Character Driven vs Plot Driven


Pus me a pensar, mediante a enorme maioria dos projectos a que estou ligado na ficção audiovisual, o  porque dessa maioria das histórias não terem a cultura de personagens fora do normal e de ser a narrativa convencional do cotidiano a forma primordial de contar histórias.

Sou assumidamente um fâ de histórias que narram um personagem completamente fora do normal, tipicamente diferente do comum dos normais, que justifique ser mostrado ao publico pela sua excentricidade ou maneira peculiar de ver o mundo.

Entendo que há espaço para ambos, a narrativa do cotidiano, onde as pessoas se revem ou ambicionam se rever nas personagens e este tipo que mais me atrai, aquilo a que os anglo saxoes chamam de “Character Driven”

É mais complexo que isso, pois a teoria à volta de escrita de histórias divide um guião em duas formas, o Character Driven e o Plot Driven. Podem e devem se misturar, mas a essência é diferente, um narra factos onde os personagens até podem ser alterados, e o outro narra a odisseia de um personagem, onde os factos podem ser alterados.

A conclusão a que eu cheguei, é que é muito mais simples e directo de assimilar e de identificar-se com uma história à volta de factos (e quanto mais mundanos, melhor) do que a mais complexa luta e procura do entendimento de si de um só personagem e seus conflitos.

Ponho me a indagar se é uma característica cultural do cinema português, de ser mais corriqueiro e menos invasor.

Sei que existem histórias e já fiz filmes onde se mostra personagens “fora do baralho” (O Barão, A Confissão de Lucio…), mas escritas de raiz, não adaptados da literatura, de pouco me lembro.


Cascais 2021

segunda-feira, 8 de março de 2021

 Ideia partilhada com a Academia de Cinema


No actual panorama de produção, tanto português como internacional, o formato das séries tem vindo a crescer a um ritmo acelerado, pondo a maioria das produtoras e cineastas que fazem cinema, a desbravar e abraçar as séries, onde, quanto a mim, que fiz três nos últimos dois anos, não distingo, tanto a metodologia de produção como o possível conteúdo, de uma tradicional longa metragem, para além do tempo da peça final e da exposição de ser projectado em sala de cinema ou na nossa sala.

O nosso trabalho, de guião, produção, construção de personagens, representação, realização, arte, som, fotografia, etc. é o mesmo, senão maior. O conteúdo cinemático não se deve limitar a numero de minutos nem por onde será vinculado.

Acredito que mais cedo do que se imagina, os prémios internacionais, tanto de festivais quanto de outras academias, serão divididos em dois formatos, historias com até duas horas e histórias com mais de duas horas, e as premiações passarão a ser indiferentes à escolha de onde foi projectado.

Os Emmys tem a categoria que eu acho perfeita para o nosso panorama; Limited Series, Movies  Existe antes disto a distinção entre TV Series Single Camara e TV Series Multi Camara, que distingue o formato de produção entre elas, e o meu ponto, para nossa discussão, é que o conceito das TV Series Single Camara são Cinema, com mais minutos.

Outra possível vantagem deste alargamento, para além de mostrar o extraordinário trabalho de actores, realizadores e outros que se perdem em não reconhecimento, é de evitar que a academia se afunile em um só formato de produção.

O Cinema vive uma revolução de formato e exposição onde me parece que não devemos nos limitar a uma só mentalidade. 

Uma ideia para conversarmos.


Fevereiro de 2021


 Meu segundo prémio dado pela AIP e ganho pela serie A Espia.  Este prémio é sempre mais agradável pois é dado pelos meus pares, o que o torna quanto a mim, mais credível.

Copio aqui o texto que pus no Facebook;

"Obrigado à AIP pela iniciativa e por continuar a promover o trabalho dos Directores de Fotografia tanto em Portugal como pelo mundo fora. Não posso deixar de agradecer ao Hugo Azevedo aip que fotografou a 2nd Unit e que trouxe o seu talento para fazer desta dura produção um sucesso. À equipa de câmera que tanto me apoiaram; Miguel Robalo, David Vasquez, Silvia Diogo, aos camaradas/chefes; José Manuel e Carlos Santos, a directora de arte, Elia Rocas e à produção da Ukbar que não se conteve em investir tudo em frente da lente e claro, ao Jorge Paixão da Costa pela oportunidade."

domingo, 7 de fevereiro de 2021

 Talvez a melhor explicação sobre o que é arte e o que é ser artista


Statement to Simone Tery – Pablo Picasso

What do you think an artist is? An imbecile who, if he is a painter, has only eyes, if he’s a musician has only ears, if he’s a poet has a lyre in each chamber of his heart, or even, if he’s a boxer, just muscles? On the contrary, he is at the same time a political being, constantly alert to the heart-rending, stirring or pleasant events of the world, taking his own complexion from them. How would it be possible to dissociate yourself from other men; by virtue of what ivory nonchalance should you distance yourself from the life which they so abundantly bring before you? No, painting is not made to decorate apartments. It is an instrument for offensive and defensive war against the enemy.

It was originally published in Les Lettres Franceses, V, no. 48, Paris, 24 March 1945. Simone Tery was a french journalist.